quinta-feira, 5 de maio de 2011

tom maior

feita de uma nota a cor permaneceu muda
sombria e fosca jamais ousou entoar em outro tom
perdeu-se no emaranhado de si
ensimesmada
deu o tom
deu-se dois, três
por fim fizeram um acordo:
-acordamos juntas que a natureza morta não existe
brincamos no silêncio entre pausas e rodopios
desdobramos em mel, em dias
e assim floresce em nossos rodopios a canção
de um cinza fosco ao matiz mais quente…

em tom maior
de mim
menor


terça-feira, 3 de maio de 2011

de repente...

Jurema resolveu ousar. Colocou aquele vestido vermelho escondido no fundo do armário e foi circular
sozinha pela Lapa. O que haveria causado aquele impulso estilo dama da lotação?Ela não se perguntou e mal teve tempo pra ouvir seus pensamentos, eles estavam amortecidos por uma dose de destilado, tomada antes de bater a porta de casa.
Saiu faceira, rebolativa e sorridente. Parecia mesmo uma menina(nada de lotação).
Esbarrava nas pessoas e sorria, ao invés de desculpas. Atravessava as ruas cintilante, dava boa noite pro policial, pra moça triste de pé em frente da farmácia.
Subiu como uma princesa os degraus da escadaria da gafieira. Tropeçou na entrada e foi amparada por Jorge.
Jorge e Jurema dançaram a noite inteira. Ao final da última música, ela pediu licença, agradeceu a companhia e saiu correndo em direção a escadaria. Jorge não pode nem mesmo pedir seu número, seguir seus passos. Ela sumiu. Como num conto de fadas.
Jorge voltou pra casa arrastando os sapatos, pisando no rabo do gato, chutando lata amassada. Nunca havia visto uma mulher como aquela. Como sobreviver a isso sem ao menos um beijo de despedida?
Jorge chegou em casa sorrateiro, para não acordar o velho que dormia no sofá e pensou que na próxima talvez tivesse um pouco mais de sorte e, quem sabe o destino lhe fosse generoso, dando a graça de mais uma dança com aquela dama desconhecida de vestido vermelho.
Jurema voltou pra casa urgente, era preciso encerrar a noite daquele jeito mágico que havia começado. Pendurou o vestido, tomou um banho delicioso e foi pra mesa da cozinha tomar um xícara de chá antes de dormir.
Tudo parecia fácil demais, seus pensamentos continuavam ausentes, era como se devesse estar ali, naquele momento, só seu.
Deitou-se na cama e vagamente a imagem de Jorge circulava em sua cabeça. Sentia o toque suave e firme de suas mãos a guiando pelo salão. O sorriso cativante que a desconsertava nas horas em que perdia o prumo e pisava ligeiramente envergonhada em seus pés.
Aquela era um noite especial, jamais havia saído sozinha de casa, determinada e feliz. Esperava sempre o convite, o telefonema que não vinha. Dessa vez era sua a noite e quem sabe da próxima pudesse compartilhar com alguém aquela sensação maravilhosa de estar solta e desamarrada de expectativas. Fechou os olhos, esqueceu suas orações e adormeceu suave e alegre.