quarta-feira, 15 de setembro de 2010

alguma coisa a mais...

Somente o vazio pode ser esse meu companheiro mudo


Eu desperto e preencho esse vazio de coisas que não me bastam e que não me prestam

Talvez prestem, senão não estaria por aqui

bastante, sempre é lugar nenhum

Vazio surdo e cego esse meu vazio

Eu tropeço nas pessoas, nas coisas, afundo o pé na terra encardida

Esse vazio me empurra como se eu não pudesse erguer nenhuma construção em torno de mim

Sentir demais talvez não seja bem um problema

Perceber demais talvez sim

A ignorância muitas vezes trás felicidade

Abertura e fechamento

Será uma sina a repetição trágica em torno do vazio?

Sim uma sina, um sinal

Repetição trágica em torno do vazio...

Buscar sempre e nunca alcançar, andar em círculos sem sair do mesmo lugar...

sábado, 11 de setembro de 2010

bolinhas ao vento


Rolando centenas de bolinhas brancas minúsculas sobre a ponte. Lá fora o engarrafamento e o vento. Orquestra ensurdecedora de buzinas, confusas e sempre apressadas. Alvoroço.


No carro há 1,5 km daqui o vidro estilhaçado e a morte carregando mais um escolhido, desse mundo repleto de pressa e de barulho.

Talvez, aquele sem nome, atrapalhando o trânsito tenha tido um aviso do que estava para acontecer; o Grand Finale que estava porvir... a sorte sorrateira escapou e adormeceu o tempo...

E assim damos passagem aos anjos que carregam mais uma pessoa desconhecida pra fora do jogo.

Falar de nome, família, compromissos e apontamentos dessa que aqui se foi... A sutileza irônica da vida abraça a crueza elegante da morte, e ambas, bailam a valsa do adeus sem notar as lágrimas e os soluços dos que ficam.

Assim percebo que a lotação está cheia, a lua sumida, o vento forte trazendo o frio e velha dama de negro...os estilhaços de vidro, minúsculos, sobre a ponte...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Falo


Um grande falo atravessado na garganta


Falo porque é inevitável calar-me

Falo porque ele quis assim atravessar-me o sexo

E exprimir-se em minhas entranhas vertiginosas e úmidas,

Nos recôncavos umedecidos e carnívoros

Na teia que enlaça e que desenlaça o fio das palavras

Um grande falo atravessado na garganta

Falo pouco

Falo de menos

Falo de sobra

Falo no gargalo

Obscenamente desnuda

Sonho pueril de alguns

Uma mulher muda



Falo porque falo

Porque quero

Porque sinto

Porque esgoto

Porque remonto

Porque remoto

Porque Sonho

Porque peço

Porque peco

Porque pinto um pouco de mim

Por aí...