quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Solstício de verão

Há quem goste, assim como eu, do canto insistente das cigarras
Os machos cantam alto e estridente o som da nova estação
Buscam com seu canto atrair as fêmeas 
Elas respondem, cantando mais baixo... respondendo o chamado do ciclo da vida
Vem a chuva, a promessa de uma nova estação
Tempo breve...
Colocam seus ovos e caem do galho
Abandonando suas cascas e seu canto
Reza a lenda que elas 'cantam tanto que explodem'
Segundo a fábula elas pedem grãos as formigas trabalhadoras
Dizendo estarem imbuídas em seu canto
O que as impediu de se ocuparem de outra função


- "Você cantava? Que beleza!
Pois, então, dance agora!"





sábado, 27 de novembro de 2010

Alteridade

Hoje é um dia inquieto. Pertenço ao grupo dos providos: escola, universidade, aluguel e trabalho. Mais: Posso circular por onde bem desejo. Insistir, desistir, resistir e me amedrontar.
No momento não sinto medo, apenas apreensão em pensar nos outros humanos que me cercam. Alteridade não se aprende na escola. Não, muitas vezes ajuda, mas nunca é o bastante qualquer exercício filosófico em torno do tema. A família que viemos não é o bastante para nos orientar, os jornais e a TV, muito menos, eles, em sua maioria, apagam da historia as páginas avermelhadas, apenas ajudam a pautar os livros da escola.
Alteridade é mais do que saber se colocar no lugar do coleguinha. Até porque, muitas vezes, o coleguinha é mais sujo, mais grosseiro e mais fedorento que você. Alteridade pode ser também uma das forma da educação vigente da classe dominante se impor no quesito: incorporo tudo aquilo que vejo para que aquilo não seja mais da minha alçada, entrego aos especialistas uma fatia dessa questão...
Alteridade pode ser romântico, ético, filosófico e político. Pode ser da prática ou da teoria. Alteridade é exclusão, inclusão; extermínio.

Um olhar sobre o outro pode ser desvelador, mítico e ao mesmo tempo inquietante e deprimente...


É preciso tocar, olhar, cheirar e cuidar
Se misturar...
encontrar e desencontrar
desfazer nós e criar novas alianças
Estender o olhar e se aproximar...





...Os Santos estão pirando
Não dão conta da demanda
Se eles sartam de banda
Nos resta seguir cantando...(Santo Samba-Pedro Luís)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Alma

Escorro atenta aos meus afazeres urgentes
carrego levemente eles na barriga e solto a mochila enorme dos ombros
Talvez a vida possa mesmo em espiral encantar, fazer sorrir e afrouxar os nós
Adoece o corpo que geme:
almaaaaaaaaaaaaaaaa

sábado, 6 de novembro de 2010

Canto

Pressão do ar
Todo o meu corpo
instrumento vocal
ar de dentro
ar de fora
controle dos orifícios
caixa craniana
mandíbula
sorriso interno
ossos ressoando
ar circulando
atrás
na frente
em cima
em baixo
do topo até o chão
paz silenciosa
preenchimento
sorriso interno constante


Pressão do ar
Força estranha
Delicioso desequilíbrio Agregador e selvagem
Baixo da Terra
Dentro do Chão
Abaixo do Solo
Dentro de mim
Fora em mim
Movimento incessante

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

repeticion

Peguei um livro de receitas fáceis e pude notar a dificuldade em que me encontrava de realizar uma simples tarefa amorosa: cozinhar para as pessoas que amo.
Deitei ao lado do livro, eram dez horas; os meninos já haviam saído de casa, eu deveria estar estudando as nove em Niterói. Acordei as sete, desliguei o despertador, dormi mais dez minutos, levantei, vim até a sala, olhei pro Cristo na montanha, peguei o celular e pensei em mais uma desculpa esfarrapada para enviar ao telefone a minha pobre colega de curso. Não que ela seja desfavorecida, muito pelo contrário, é provida de inteligência, energia e disponibilidade, coisa que no momento não apetece o meu dia.
Inveja a parte, amizade nesse momento parece mesmo ser obra do acaso. O acaso não tem batido muito a minha porta ultimamente.
Acordei de um sonho onde meu avô me chamava: Venha, levanta! levanta!Alguma coisa assim. Abri os olhos assustada e pensei que talvez ele quisesse me alertar de algo. Na verdade foi um pouco mais nostálgico, pois me lembrei do tempo em que estava deprimida e só conseguia dormir e comer. Ele me acordava para comer, provavelmente era uma questão de vida e de morte. Talvez seja sempre uma questão de vida e morte. Levantar da cama, abraçar o marido, colocar café pro filho, correr com o dever que não foi feito no dia anterior, dar um beijo nos dois na porta do elevador e voltar pra cama novamente; abraçada ao livro de receitas.
Antes de adormecer, ouvi um ruído vindo de fora do quarto e pensei que fechar a porta fosse mesmo necessário. Tive medo que alguém entrasse e tranquei meu quarto para que o sono viesse. Fechei os olhos e percebi que estava na cozinha, tentando enxergar pelo olho mágico, que estava tapado, escuro; e logo pensei: Alguém está tampando e talvez esse alguém seja perigoso e queira entrar aonde não é chamado.
Dormindo em um estado quase que intermediário do sonho, senti meu corpo pesado tentando reagir aquele chamado e ao perigo eminente que rondava minha casa. Tentei abrir os olhos, pensei em pegar o telefone que estava sobre a cama, talvez pudesse ligar para o Léo e desse tempo pra ele voltar pra casa e me salvar daquele perigo: o homem que estava lá fora tentando entrar e o meu avô que me dizia pra levantar... Levantei, olhei para as cortinas e lembrei-me das da minha avô, daquelas esvoaçantes e pomposas cortinas que eu fechava e guardava o mundo para uma outra hora. Aquele lugar muitas vezes havia me servido de abrigo.
Pensei em lavar a cortina encardida e amarelada, quem sabe tingi-las de uma cor quente e alegre, daí lembrei-me das paredes que deveriam ser pintadas, do móvel do quarto do Diogo e de tantas outras coisas que faltavam serem feitas por mim...
Talvez a solidão e a depressão, a crise e a confusão desse momento não seja tão velha assim, não deva ser eliminada como uma chaga impeditiva, talvez meu avô tenha alguma outra coisa pra me falar.
Minha irmã me liga e diz que foi clonada, que gastaram milhões no seu cartão, meu pai ao telefone me convida pra sair, eu ainda falo a mesma coisa: estou doente, em casa, tomando antibiótico e esperando a formatura. Há praticamente dez anos, repito a mesma ladainha: doente, em casa, tomando antibiótico, esperando a formatura.
Não dá realmente pra fugir do Supereu.
Mas ele é tão repetitivo também. Sempre querendo as mesmas coisas, os mesmos encontros, os mesmos presentes, as mesmas perguntas. Talvez não deva fugir. Deva abrir a porta do quarto, parar de olhar através do olho mágico e escutar o que meu avô tem pra me dizer...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tantas em uma só

Ser mãe é ter cuidado, falar baixo, manso, açucarado
Ser mãe é estar sempre atenta e pronta pra falar a coisa certa no momento exato
Ser mãe é explicar, ouvir, brincar
Ser mãe é cantar baixinho as canções da vovó
é preparar o café da manhã como se fosse único e especial
Ser mãe é dar colo, dar beijinho, dar cosquinha
Ser mãe é acordar mãe e dormir mãe
É enfeitar o paraíso
Ser mãe é dormir mulher e acordar mulher,
feminina, agitada, afobada, com medo e atrapalhada
É tropeçar nos livros e perceber que eles já deveriam ter sido lidos
É pecar, distrai, delirar, namorar, espirrar, arrotar, confundir
Sair com a espada de São Jorge e a vassoura de Iansã
Ser feiticeira, faceira, arteira, biscateira
Chorar um rio de lágrimas salgadas
Sentar com as amigas e gargalhar da mais tola brincadeira
Ser mãe e ser mulher
feminina a enésima potência
Louca, desvairada, amiga, a que devora e que nutre
A que tempera, que pena, que arranca as penas
A que ascende a chama e apaga a vela
É tudo misturado
Tudo ao mesmo tempo, aqui e agora
Vazio, cheio, mítico e enlouquecedor
...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

alguma coisa a mais...

Somente o vazio pode ser esse meu companheiro mudo


Eu desperto e preencho esse vazio de coisas que não me bastam e que não me prestam

Talvez prestem, senão não estaria por aqui

bastante, sempre é lugar nenhum

Vazio surdo e cego esse meu vazio

Eu tropeço nas pessoas, nas coisas, afundo o pé na terra encardida

Esse vazio me empurra como se eu não pudesse erguer nenhuma construção em torno de mim

Sentir demais talvez não seja bem um problema

Perceber demais talvez sim

A ignorância muitas vezes trás felicidade

Abertura e fechamento

Será uma sina a repetição trágica em torno do vazio?

Sim uma sina, um sinal

Repetição trágica em torno do vazio...

Buscar sempre e nunca alcançar, andar em círculos sem sair do mesmo lugar...

sábado, 11 de setembro de 2010

bolinhas ao vento


Rolando centenas de bolinhas brancas minúsculas sobre a ponte. Lá fora o engarrafamento e o vento. Orquestra ensurdecedora de buzinas, confusas e sempre apressadas. Alvoroço.


No carro há 1,5 km daqui o vidro estilhaçado e a morte carregando mais um escolhido, desse mundo repleto de pressa e de barulho.

Talvez, aquele sem nome, atrapalhando o trânsito tenha tido um aviso do que estava para acontecer; o Grand Finale que estava porvir... a sorte sorrateira escapou e adormeceu o tempo...

E assim damos passagem aos anjos que carregam mais uma pessoa desconhecida pra fora do jogo.

Falar de nome, família, compromissos e apontamentos dessa que aqui se foi... A sutileza irônica da vida abraça a crueza elegante da morte, e ambas, bailam a valsa do adeus sem notar as lágrimas e os soluços dos que ficam.

Assim percebo que a lotação está cheia, a lua sumida, o vento forte trazendo o frio e velha dama de negro...os estilhaços de vidro, minúsculos, sobre a ponte...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Falo


Um grande falo atravessado na garganta


Falo porque é inevitável calar-me

Falo porque ele quis assim atravessar-me o sexo

E exprimir-se em minhas entranhas vertiginosas e úmidas,

Nos recôncavos umedecidos e carnívoros

Na teia que enlaça e que desenlaça o fio das palavras

Um grande falo atravessado na garganta

Falo pouco

Falo de menos

Falo de sobra

Falo no gargalo

Obscenamente desnuda

Sonho pueril de alguns

Uma mulher muda



Falo porque falo

Porque quero

Porque sinto

Porque esgoto

Porque remonto

Porque remoto

Porque Sonho

Porque peço

Porque peco

Porque pinto um pouco de mim

Por aí...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Mulher mais adorada!


Agora que não estás,

deixa que rompa o meu peito em soluços

Te enrustiste em minha vida,

e cada hora que passa

É mais por que te amar

a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.



E sabes de uma coisa?

Cada vez que o sofrimento vem,

essa vontade de estar perto, se longe

ou estar mais perto se perto

Que é que eu sei?

Este sentir-se fraco,

o peito extravasado

o mel correndo,

essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;

Tudo isso que é bem capaz

de confundir o espírito de um homem.



Nada disso tem importância

Quando tu chegas com essa charla antiga,

esse contentamento, esse corpo

E me dizes essas coisas

que me dão essa força, esse orgulho de rei.



Ah, minha Eurídice

Meu verso, meu silêncio, minha música.

Nunca fujas de mim.

Sem ti, sou nada.

Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.

Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!

A existência sem ti é como olhar para um relógio

Só com o ponteiro dos minutos.

Tu és a hora, és o que dá sentido

E direção ao tempo,

minha amiga mais querida!



Qual mãe, qual pai, qual nada!

A beleza da vida és tu, amada

Milhões amada! Ah! Criatura!

Quem poderia pensar que Orfeu,

Orfeu cujo violão é a vida da cidade

E cuja fala, como o vento à flor

Despetala as mulheres -

que ele, Orfeu,

Ficasse assim rendido aos teus encantos?



Mulata, pele escura, dente branco

Vai teu caminho

que eu vou te seguindo no pensamento

e aqui me deixo rente quando voltares,

pela lua cheia

Para os braços sem fim do teu amigo



Vai tua vida, pássaro contente

Vai tua vida que estarei contigo.



domingo, 29 de agosto de 2010

mulher selvagem

Aquela velha cruz envergada e seca adormece sobre o lago de águas paradas e lamacentas

Espero deitada em uma canoa velha e desmantelada
Havia uma fogueira com a chama fria e quase apagada
Pensei que voar seria precipitado e fiquei por ali, boiando e observando aquela morna chama que adormecia com persistência sobre a grama umidecida
Os ossos doíam e a mente vagava incerta pelo lago
Pensei em levantar a cabeça e esperar o sol nascer e quem sabe algo mágico me carregasse pra longe do lodo
Aprendi que a flor emerge viva ainda na lamacenta felicidade de rebrotar numa próxima estação
Adormeci de novo e deixei que o vento frio atravessasse meu corpo.
Deixei que os meus ossos esfriassem um pouco mais e percebi que nada aconteceria e que talvez fosse bom que nada acontecesse enquanto o fogo estivesse baixo, a água parada e o coração vazio.
Fechei os olhos mais uma vez e pude ver uma névoa acinzentada...
Quando as mulheres ficam sós em algum canto parece nascer um beija flor que voando insistentemente pelos quatro cantos da alma selvagem que habitam as tantas paredes erguidas pelo tempo... Nas muralhas da alma... Fica certo que a vida não é somente a passagem das horas, tão somente as sementes das possibilidades. A vida é um grande buraco que suporta o tempo inesgotável em sua insistência maléfica de esgotar a suavidade da tempestade negra da selvageria ancestral que ronda a alma feminina.
Se pudéssemos calar um pouco e deixar brotar a tal nevoa acinzentada talvez a eternidade passasse por nós de quando em vez e desse um sopro revigorante de justiça em nossas vidas meninas.
Os filhos germinados acompanham o sopro ancestral que governa as sete portas das sete estrelas escondidas no ventre da mais velha senhora que canta a canção feminina da deusa mãe

Ela governa sem governar

Reza sem pedir

Sabe mesmo é dançar por aí seus véus de estrelas e de poesia...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pérolas aos porcos

Não sei de onde veio essa expressão, possivelmente, vou procurar uma indicação mais tarde de sua origem, alguma história bíblica de certo. A imagem sugere tantas possibilidades que prefiro brincar com elas.


Os porcos famintos aguardam a comida, minha sacola está cheia de pérolas, eles olham pra mim como se fitassem um banquete, eu atiro as pérolas aos porcos. Serei devorada.

Os porcos, mal cheirosos, famintos de espírito e sedentos de respostas rápidas para seus problemas de alma recebem dádivas de sabedoria, conselhos astuciosos, incríveis palavras, antídoto contra a ignorância. Entra por um ouvido e sai pelo outro. (Essa também é outra boa expressão para ser pesquisada)

"Pérolas aos porcos" Cem homens em um navio abarrotado de mercadoria contrabandeada das Índias, século dezessete, tumulto, alvoroço, algazarra. Rum e fumaça, um fétido odor apodrecido submerge das peles tostadas dos marujos. Uma dama perfumada e bem vestida adentra a embarcação: pérola aos porcos.

E assim sigo devaneando por aí, pensando em recolher as minhas pérolas e quem sabe acumular alguma riqueza...

domingo, 30 de maio de 2010

Resiliência

Resiliência (psicologia)


A psicologia tomou essa imagem emprestada da física, definindo resiliência como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. - sem entrar em surto psicológico. No entanto, Job (2003) que estudou a resiliência em organizações argumenta que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto de tomada de decisão entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer.

Já o pesquisador George Souza Barbosa entende a resiliência como um amálgama de sete fatores: Administração das Emoções, Controle dos Impulsos, Empatia, Otimismo, Análise Causal, Auto Eficácia e Alcance de Pessoas (Barbosa, 2006).

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Não precisamos abraçar a causa psicanalítica, mas deveríamos todos nos debruçar na leitura dos escritos Freudianos, ao menos uma só vez, para o próprio deleite.

Suas palavras sempre tão objetivas visavam sim a clareza científica e a precisão cirúrgica na liturgia racionalista do início do século passado. Rompeu-se naquele dado momento a aliança com o saber médico e sua dogmática cartilha, onde um corpo doente, dotado de um sintoma físico patogênico, era sabido somente através da ótica das causas orgânicas.
Freud foi ao mais-além. Rompeu, escreveu e delineou a obscuridade dos desejos e das aspirações humanas.
Nas cinco lições de psicanálise ele é bastante conciso com sua proposta e enumera seus pressupostos defendendo brilhantemente sua tese psicanalítica, onde o homem civilizado pode encaixar-se perfeitamente: sonhos, chistes, neurose, histeria, atos falhos, sintomas substitutivos, pulsões sexuais, desejos desenfreados, sexualidade infantil, sublimação sexual, homossexualidade (ponto fraco), fantasia, arte...
Acho que é por aqui que devemos começar a leitura e, quem sabe,possamos estar sempre referidos à época em que foi escrito e tantas outras possíveis considerações... Dr. Freud tinha também a sua historia pessoal, o seu comprometimento neurótico.
Fico aqui com um trecho magnífico da quinta lição de psicanálise, em que ele fala, e também se inclui no discurso de homem de cultura, um trecho belíssimo sobre a criação artística:

“Hão de notar que nós homens, com as elevadas aspirações de nossa cultura e sob a pressão das íntimas repressões, achamos a realidade de todo insatisfatória e por isso mantemos uma vida de fantasia, onde nos comprazemos em compensar as deficiências da realidade, engendrando realizações de desejos. Nestas fantasias há muito da própria natureza constitucional da personalidade e muito dos sentimentos recalcados. O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos no ar. Quando esse resultado não é atingido, seja por oposição do mundo exterior, seja por fraqueza do indivíduo, este se desprende da realidade, recolhendo-se aonde possa gozar, isto é, ao seu mundo de fantasia, cujo conteúdo no caso de moléstia se transforma em sintoma. Em certas condições favoráveis, ainda lhe é possível encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade, em vez de se alhear dela definitivamente pela regressão ao período infantil. Quando a pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos (psicologicamente ainda enigmáticos) podem suas fantasias transmudar-se não em sintomas senão em criações artísticas, subtrai-se desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade(Cf. Rank, 1907.) Quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons, é absolutamente inevitável que a libido, seguindo a origem da fantasia, chegue ao reavivamento dos desejos infantis, e com isso a neurose, representante, em nossos dias, do claustro aonde costumavam recolher-se todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver."

(Freud.Sigmund, 1910 p. 47.volume XI)

domingo, 9 de maio de 2010

Entre dois tempos

Se por hoje penso estar vazia, solta no silêncio, entre o espaço de dois tempos, decido permanecer quieta e atenta aos sinais do vento e a passagem da ventania.
Sujeita as intempéries do espírito inquieto dos tempos...contemporizo: paro a meta e estanco a indecisão até que tudo pareça mais claro e que possa deslizar por aí...

quarta-feira, 31 de março de 2010

Da caixa que se agita

ACORDEI E VI O LEITE DERRAMADO EM MINHA CAMA. APRENDI QUE EM CERTOS DIAS É MELHOR NEM ME LEVANTAR. (PAUSAR O TEMPO) LIVRAR OS MAUS AGOUROS PARA QUE ELES POSSAM MURCHAR NAS PLANÍCIES INABITÁVEIS ONDE AS ALMAS NÃO CIRCULAM.
ASSIM QUE RESOLVI DERRAMAR O LEITE PENSEI QUE TALVEZ PRECISASSE ALIMENTAR ALGUÉM COM QUASE SETE ANOS DE IDADE E RESOLVI ENTORNAR O CALDO MESMO ASSIM.
SEGURANÇA DESALMADA!PERCEBI QUE JÁ ANDAVA SETE ANOS POR TAIS PLANÍCIES, DESCALÇA, E ASSIM IA ESFOLANDO MEUS PÉS, ARRASTANDO OS RESTOS QUE CARREGAVA DENTRO DA MALA PESADA SOBRE MEUS OMBROS. DEIXAVA-ME CORTAR A FACE, DESFIANDO LENTAMENTE O QUE RESTAVA DE DIGNO DENTRO DO MEU PEQUENO GRANDE SER.
♪BOTÃO DE ROSA ASSIM TÃO PEQUENINO♪ CABE COMO UM VERSO DENTRO DO MEU BAÚ VALOROSO DE AMOR.
POR FORÇA DE UMA BREVE FATALIDADE DA LEI DOS HOMENS, AQUELES QUE ME CAUSAM ASCO DETERMINAM O QUE DEVO E O QUE NÃO DEVO.
PARAR DE RESPIRAR? MELHOR PARAR PARA RESPIRAR... PENSAM-SE SERES ULTRACORRETOS; DIGNÍSSIMOS SENHORES FEUDAIS, BEM DOTADOS E INDISPENSÁVEIS: OS ESCOLHIDOS PELO PAI CELESTIAL. E NÃO É QUE ELES ACREDITAM REALMENTE NA EXISTÊNCIA DIVINA. AQUELE LÁ EM CIMA, TODO ONIPOTENTE E CANSADO, É O TAL CARA, O CEGO RESPONSÁVEL PELA SAGACIDADE DOS AFORTUNADOS E PELAS NOITES DE SONO DOS ALGOZES... MAS DÃO GRAÇAS A TARJA PRETA, VIDRINHO BEM DESTAMPADO, QUE MORA EM CIMA DO ALTAR...
(AMBIENTE: CARPETES CAROS E TEMPERATURA AMBIENTE).
NÃO CREIO MAIS EM DEUS, MAS ISSO NÃO ME IMPEDE DE ASCENDER VELAS AOS ANJOS. E PEÇO. EU ROGO, IMPLORO E SUPLICO: - LIBERTEM MINHA ALMA!
... E DE TRISTEZA, MUITOS DIAS, MEUS OLHOS FIAM O TEMPO PERDIDO, AFUNDAM INEXPRESSÍVEIS EM UM MAR SEM FIM. PERCO O OLHAR EMBAÇADO EM TAIS PLANÍCIES.
CARA A FELICIDADE. APERTADAS AS AMARRAS. AS AMARRO. MAS AS PALAVRAS AVANÇAM E PARA TRÁS FICA A VONTADE EXTENUANTE DO FALSO ARBÍTRIO CRISTÃO: A AFLIÇÃO.
AS PALAVRAS QUEIXAM-SE DE MIM E PRECISO OUVI-LAS RECLAMAREM, PECAREM À VONTADE, PARA FORA E PARA FORA DA CAIXA QUE SE AGITA. DESLUMBRE DE FATO FOTO QUE QUEIMA A BARRA DOS PENSAMENTOS E QUE ALISA FINO, A FACE DE CADA UM QUE ME FAZ CERTOS FAVORES INAFIANÇÁVEIS.
SEMPRE DESEJEI A MORTE DO REI. A CABEÇA ROLANDO E A MACACADA SORRINDO ENLOUQUECIDA MENTE EM CIMA DO CAIXÃO. LOUCURA FIEL!
A BONDADE É PARA OS FRACOS DE ESPÍRITO, OS FORTES ESCAPAM E DEIXAM O LEITE ESCORRENDO POR AÍ. EMBRIAGUEZ E TUBERCULOSE NÃO SÃO DUAS ARMAS COMPATÍVEIS.
PREFIRO OS ÉBRIOS E OS QUE VOAM POR SOBRE AS PLANÍCIES ORVALHADAS, DANÇANDO SEM VESTES, PARA A LUA CALADA, ENTORPECIDA EM SEU LAMENTO MUDO PELAS ALMAS AMORDAÇADAS...

quinta-feira, 25 de março de 2010

wings of desire


O tempo cura, mas e se o tempo for a doença?
É como se às vezes tivéssemos de nos curvar para continuar vivendo...Vida, um olhar basta....

quarta-feira, 24 de março de 2010

Nazca men

Pergunta do rebento: “Quando surgiu a mulher?”
Porque do homem ele sabia
Tinham os macacos, que evoluíram e transformaram-se em homens.
"Mas e as mulheres, quando e como elas surgiram?”
Pensando em espécie, expliquei um pouco o que eles queriam dizer com isso...
Pensei, repensei...
Porque cargas d’água não incluíram as mulheres e porque não: “... E dai evoluíram e viraram mulheres”
Stars shinning brigth above you


Night breezes seems to whisper "I love you"

Birds singing in the sycamore tree

Dream a little dream of me

Say nighty-night and kiss me

Just hold me tight and tell me you miss me

While I'm alone and blue, as can be

Dream a little dream of me

Stars fading but I linger on, dear

Still craving your kiss

I'm longing to linger till dawn, dear

Just saying this

Sweet dreams till sunbeams find you

Sweet dreams that leave all worries behind you

But in your dreams whatever they be

Dream a little dream of me