quinta-feira, 27 de maio de 2010

Não precisamos abraçar a causa psicanalítica, mas deveríamos todos nos debruçar na leitura dos escritos Freudianos, ao menos uma só vez, para o próprio deleite.

Suas palavras sempre tão objetivas visavam sim a clareza científica e a precisão cirúrgica na liturgia racionalista do início do século passado. Rompeu-se naquele dado momento a aliança com o saber médico e sua dogmática cartilha, onde um corpo doente, dotado de um sintoma físico patogênico, era sabido somente através da ótica das causas orgânicas.
Freud foi ao mais-além. Rompeu, escreveu e delineou a obscuridade dos desejos e das aspirações humanas.
Nas cinco lições de psicanálise ele é bastante conciso com sua proposta e enumera seus pressupostos defendendo brilhantemente sua tese psicanalítica, onde o homem civilizado pode encaixar-se perfeitamente: sonhos, chistes, neurose, histeria, atos falhos, sintomas substitutivos, pulsões sexuais, desejos desenfreados, sexualidade infantil, sublimação sexual, homossexualidade (ponto fraco), fantasia, arte...
Acho que é por aqui que devemos começar a leitura e, quem sabe,possamos estar sempre referidos à época em que foi escrito e tantas outras possíveis considerações... Dr. Freud tinha também a sua historia pessoal, o seu comprometimento neurótico.
Fico aqui com um trecho magnífico da quinta lição de psicanálise, em que ele fala, e também se inclui no discurso de homem de cultura, um trecho belíssimo sobre a criação artística:

“Hão de notar que nós homens, com as elevadas aspirações de nossa cultura e sob a pressão das íntimas repressões, achamos a realidade de todo insatisfatória e por isso mantemos uma vida de fantasia, onde nos comprazemos em compensar as deficiências da realidade, engendrando realizações de desejos. Nestas fantasias há muito da própria natureza constitucional da personalidade e muito dos sentimentos recalcados. O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos no ar. Quando esse resultado não é atingido, seja por oposição do mundo exterior, seja por fraqueza do indivíduo, este se desprende da realidade, recolhendo-se aonde possa gozar, isto é, ao seu mundo de fantasia, cujo conteúdo no caso de moléstia se transforma em sintoma. Em certas condições favoráveis, ainda lhe é possível encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade, em vez de se alhear dela definitivamente pela regressão ao período infantil. Quando a pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos (psicologicamente ainda enigmáticos) podem suas fantasias transmudar-se não em sintomas senão em criações artísticas, subtrai-se desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade(Cf. Rank, 1907.) Quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons, é absolutamente inevitável que a libido, seguindo a origem da fantasia, chegue ao reavivamento dos desejos infantis, e com isso a neurose, representante, em nossos dias, do claustro aonde costumavam recolher-se todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver."

(Freud.Sigmund, 1910 p. 47.volume XI)

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