domingo, 29 de agosto de 2010

mulher selvagem

Aquela velha cruz envergada e seca adormece sobre o lago de águas paradas e lamacentas

Espero deitada em uma canoa velha e desmantelada
Havia uma fogueira com a chama fria e quase apagada
Pensei que voar seria precipitado e fiquei por ali, boiando e observando aquela morna chama que adormecia com persistência sobre a grama umidecida
Os ossos doíam e a mente vagava incerta pelo lago
Pensei em levantar a cabeça e esperar o sol nascer e quem sabe algo mágico me carregasse pra longe do lodo
Aprendi que a flor emerge viva ainda na lamacenta felicidade de rebrotar numa próxima estação
Adormeci de novo e deixei que o vento frio atravessasse meu corpo.
Deixei que os meus ossos esfriassem um pouco mais e percebi que nada aconteceria e que talvez fosse bom que nada acontecesse enquanto o fogo estivesse baixo, a água parada e o coração vazio.
Fechei os olhos mais uma vez e pude ver uma névoa acinzentada...
Quando as mulheres ficam sós em algum canto parece nascer um beija flor que voando insistentemente pelos quatro cantos da alma selvagem que habitam as tantas paredes erguidas pelo tempo... Nas muralhas da alma... Fica certo que a vida não é somente a passagem das horas, tão somente as sementes das possibilidades. A vida é um grande buraco que suporta o tempo inesgotável em sua insistência maléfica de esgotar a suavidade da tempestade negra da selvageria ancestral que ronda a alma feminina.
Se pudéssemos calar um pouco e deixar brotar a tal nevoa acinzentada talvez a eternidade passasse por nós de quando em vez e desse um sopro revigorante de justiça em nossas vidas meninas.
Os filhos germinados acompanham o sopro ancestral que governa as sete portas das sete estrelas escondidas no ventre da mais velha senhora que canta a canção feminina da deusa mãe

Ela governa sem governar

Reza sem pedir

Sabe mesmo é dançar por aí seus véus de estrelas e de poesia...

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