domingo, 3 de abril de 2011

INVEJA

Ela exala desejo e juventude
Eu invejo cada passo, cada trilha desenhada

Ela é livre, atlética, doce e delicada
Eu sou alguém que rema, rema e não sai do mesmo lugar
Eu sou rígida, frígida, enfurecida
Ela é deusa, ninfa, literária, efêmera
Eu odeio-a em cada palmo de pele, em cada poro de existência
Ela é amor, gratidão
Eu busco meus recursos em mim mesma
Ela nos outros, nas pessoas, nos lugares, nos amigos
Eu sou incapaz e crua
Ela é fresca, é nua
Eu sou palavra
Ela é poema 
Eu sou verso
Ela é matema
Eu sou pequena
Ela é incomensurável
Sou de menos
Ela é demais
Sou do tamanho de um botão
Ela desata os nós, afrouxa os laços, solta a imensidão 
Eu invejo
Ela cria
Eu padeço
Ela desafia
Eu coroa
Ela cara

Cobra rastejante
Gostaria de arracar-lhe os olhos, as vísceras
Beber-lhe o sangue, dilacerar sua voz, seu rosto, seus olhos cor do mar

Tomar pra mim o que é seu
Juntar com aquilo que é meu
Deixar-lhe sem nada
Apavorada e desaprovada
Feia, infeliz, sozinha
Sombria, deprimente, aguardente
Mulher que mata no olhar
Mulher rival
Destruída
Apagada
Morta
Dilacerada
Manchete de jornal
Pecado de mulher
É querer ser outra
A Outra mulher
Em palavras 
Para calar o malgrado
Em versos
Para expurgar
O mau-olhado









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