segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ensaio bagunçado


Os homens choram no chuveiro, no travesseiro, na chuva, enquanto as mulheres choram na cama, na rua, no táxi, lavando louça, esfregado chão, amassando pão. A massa fermenta e cresce com nossas dores, nossos amores, nossos desejos e nossas frustrações. Aos do sexo masculino foi dada a dura tarefa do silêncio frente às suas dores. A nós mulheres, restou a histeria e os hormônios.
Como iremos nos relacionar? Como entender e aceitar nossa constituição feminina? Sabemos que não somos determinadas biologicamente, mas também reconhecemos os fatores expressivos, passíveis de incansáveis repetições, o nosso modo de ser feminino, que talvez possa ser uma enganação ou no entendimento dos letrados: a expressão plural de uma identidade compartilhada. Como seremos amados (porque é essa a questão) por nossos parceiros do outro sexo? Pensando nas diferenças dentro de uma relação com os do mesmo sexo, ou nas tantas outras formas de uniões da contemporaneidade. Pensando e aceitando as diferenças, esse é um bom caminho.
Nós mulheres, bebemos nossas dores na mesa de um bar, traímos nossos parceiros mentimos, enganamos. Ao mesmo tempo somos carinhosas, cuidamos, trabalhamos, contemos nossas lágrimas, pois, o mundo deve continuar rodando e, parece que dessa vez, a roda está emperrada... é preciso de reforço no empurra. 
Em outras paragens estávamos espalhados em nossas obrigações, segregados em nossas tarefas, alienados de nosso quereres. Fomos sós, guerreiras incansáveis, caçadoras, parideiras, fortes mulheres de caça e prontidão, enquanto os homens (que não eram nossos) estavam em outras bandas, conquistando outros lugares, providenciando   multiplicações... 
E o amor, será invenção da igreja também? Porque o casamento, a família, a moralidade sim... as torturas, os juízos de verdade, a doutrinação do pensamento, a ordem dos corpos, as  punições severas pela via da repressão das paixões... A igreja é responsável pela maioria das atrocidades.
Depois entra a justiça segurando as duas balanças, ajudando a casar, a legitimar a propriedade privada, a dizer até onde a gente pode ir, limitando nosso espaço, cerceando nossos corpos (mais uma vez), impedindo a iniquidade?
O racionalismo, a retórica, a política, o capitalismo, o normal e o patológico...Tudo amontoado, girando a roda ao mesmo tempo, impedindo o homem de matar, de roubar, de querer, de sonhar e de lutar pelos seus sonhos.
Homens e mulheres: devem amar, respeitar e glorificar as dádivas de um deus morto.
Abram a água do chuveiro para lavar a alma cansada e maltratada de todos os dias, arregacem as cortinas e deixem o sol penetrar pelas frestas de nossas almas, nossos espíritos, nosso-qualquer-coisa que se queira chamar de insondável e  de indizível que é o ser humano.
Abram as palavras ao tempo que nunca se esgota, senhor que aquece e acalanta as errâncias, as efervescências e os desvarios. Mulheres e homens, choram seus filhos nascidos, seus dias de luta e de submissão. Homens e mulheres choram à pobreza, à miséria, à fome, à  cruel desigualdade social... 
O amor talvez seja o ópio que inebria, o porteiro do tempo que abre a represa, que alaga e irriga as plantações. Aos filhos, o fruto do nosso trabalho; aos amigos, a alegria das nossas horas de ócio; aos nossos dias de luta, toda a nossa devoção...

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